Um pouco da história do Ayurveda
» por Camila Reitz (1973-) (1)
“Não existe diferença entre o caminho da medicina e o da religião.
Os dois conduzem o homem ao mesmo lugar.”
Benoytosh Bhattacharyya
Através de experiências e observações, sábios homens, denominados rishis, que tinham como objetivo de vida manter o estado de bem estar em todos os seres viventes no planeta, investigavam e discutiam sobre diferentes aspectos da natureza, e principalmente como o ser humano se relacionava com o ambiente em que vive. Conclusões e até mesmo discordâncias eram anotadas, e essas anotações fazem parte da ciência da vida, o Ayurveda.
Uma lenda hindu conta que Atreya, um sábio védico, foi o primeiro homem que recebeu dos deuses a arte da medicina. Ele não conseguia mais lidar com o sofrimento dos homens e dos animais, e disse para Indra, o rei dos deuses: “este mundo está se acabando com tantas doenças, e os seres estão sofrendo tanto. Mostre sua compaixão, e me ensine a ciência da vida”.
Indra então lhe ensinou o Ayurveda, que aprendeu com os irmãos Ashvins. Estes haviam, por sua vez, aprendido com Daksha, o sábio que teve como missão preencher o universo com seres viventes. Daksha conheceu essa ciência através de seu pai, Brahma, o primeiro ser de todo o universo.
Atreya era o mais sábio entre os sábios que discutiam sobre o bem estar dos seres. Ele passou os conhecimentos adquiridos para seus discípulos, que escreveram livros. O mais importante entre eles é a Charaka Samhita. Também nos Vedas se fala sobre o Ayurveda, principalmente no Atharva Veda.
Na Charaka Samhita estuda-se a fisiologia e a estrutura anatômica do ser humano, assim como suas patologias, sintomas de várias doenças e métodos de examinação e tratamentos. Os métodos preventivos, assim como as dietas, os regimes de estações do ano, hábitos diários e de comportamentos sociais e mentais estão todos nesse imenso livro, que contém métodos de curativos e tratamentos à base de plantas e ervas, além de terapias rejuvenescedoras.
Outro livro muito importante para o Ayurveda é a Sushruta Samhita. Considerado o pai da cirurgia, nele podem ser encontradas sofisticadas descrições de ferramentas cirúrgicas, assim como cirurgias de fraturas, abcessos, queimaduras e até cirurgia plástica. Também podem se encontrar as descrições dos marmas, os pontos vitais no corpo, análogos aos usados na acupuntura chinesa.
Esses textos foram muito modificados durante o passar dos anos, ao serem utilizados por muitas culturas, e a partir deles surgiram outras medicinas. São todos escritos em sânscrito, uma língua muito antiga e considerada sagrada.
No século VI a.C., na famosa Universidade de Taxila, hoje no território do Paquistão, os estudantes, antes de se graduarem, eram enviados à selva com o objetivo de trazer, para os seus professores examinadores, folhas de plantas que não pudessem ser utilizadas como medicina. Aqueles que depois de pesquisas contínuas, durante sete longos dias, não pudessem trazer nenhuma planta imprestável, eram os graduados com a nota mais alta e autorizados a praticar o Ayurveda. Os outros, que por sua vez retornavam da selva felizes por terem encontrado ao menos uma erva, eram reprovados, e tinham que estudar por mais alguns anos.
Esse era um simples exame que serve para deixar bem claro o fato de que não existe nada no mundo que não possa ser utilizado como medicina e que não possa produzir algum tipo de efeito nas pessoas saudáveis ou não saudáveis.
- Texto originalmente publicado em 2000 e digitado por Cristiano Bezerra para este blog Yoga Pleno em 20 de dezembro de 2009. Visite o site da professora Camila Reitz em camilareitz.com.br [↩]
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