Yoga não é só técnica: Yoga é cultura
» por Pedro Kupfer (1966-), do yoga.pro.br (1)
Muitos autores afirmam que o Yoga é um conjunto de técnicas práticas. No entanto, a definição do Yoga como pura e simples prática é incompleta, pelo fato de que ele vai muito além de seus aspectos técnicos.
Vejamos a definição de prática segundo o Dicionário Houaiss: prática é o “ato ou efeito de fazer algo, ação, execução, realização. Execução de alguma coisa que se planejou. Execução rotineira de alguma atividade. Maneira usual de fazer ou agir”. Nós sabemos que o Yoga é muito mais que isso.
A definição de Yoga tampouco se encaixa bem com o conceito de ciência, que, segundo o mesmo dicionário, é um “processo racional usado pelo homem para se relacionar com a natureza e assim obter resultados que lhe sejam úteis”.
Yoga tampouco é apenas uma arte, embora seja por momentos apresentado como uma arte para saber viver, e exista gente que prefira vê-lo como tal.
Na nossa opinião, o conceito de Yoga encaixa-se melhor com a palavra cultura. O que é cultura? Na definição do Dictionary of Cultural Literacy, cultura é “a soma de atitudes, costumes e crenças que distingue um grupo de pessoas dos demais, transmitida através de uma linguagem, objetos materiais, rituais, instituições e expressões artísticas, de uma geração à seguinte”.
As atitudes e costumes dessa cultura que é o Yoga configuram seu decálogo ético, ensinado pelo sábio Patañjali no século IV a.C. São verdades universais atemporais que nos ajudam a viver uma vida harmoniosa com a sociedade e com nós mesmos. As crenças do Yoga fazem parte do elo que este mantém com a civilização védica, em cujo seio nasceu, e que até hoje o vincula inalienavelmente com o Hinduísmo. Essas crenças se manifestam nas práticas de puja, a adoração ritual, nos mantras e na presença constante dos deuses e heróis da mitologia hindu em seus textos sagrados. Faz parte ainda dessa cultura a visão do universo como uma unidade, e a espécie humana como uma grande família. Cumprimentar-se de uma forma determinada, vestir-se de uma forma determinada, alimentar-se de uma forma determinada, são alguns dos elementos da cultura yogika.
O Yoga possui sua linguagem própria, a sagrada e bela língua sânscrita, com a qual define conceitos e idéias transmentais que não podem encerrar-se em palavras em nenhuma outra língua vernácula. Tem igualmente seus objetos materiais, usados para facilitar certas práticas, rituais que remetem ao Hinduísmo, escrituras sagradas e formas de arte próprias, que fazem parte da herança que recebemos da geração anterior à nossa, a qual recebeu essa cultura da anterior numa corrente contínua que remonta até a mais profunda noite das idades. Ao mesmo tempo, a cultura do Yoga é uma ferramenta de transformação humana capaz de eliminar os condicionamentos gerados por formas de comportamento estandardizadas.
Porém, nenhum desses aspectos do Yoga se encaixa na definição da palavra prática que vimos acima. Portanto, despido desses elementos, o Yoga deixaria de ser o que é, transformando-se unicamente num instrumento para o bem-estar, a manutenção da saúde e o autoconhecimento.
Mas por que o conceito de cultura yogika é tão importante neste momento que estamos vivendo? Essa discussão sobre a definição do Yoga nasce da constatação de que, no futuro, o Yoga irá mudar inevitavelmente. Porém, a forma em que ele irá mudar será determinada pela evolução interna da essência dessa cultura, assim como pela sua interação com o meio onde ela existe.
Desde dentro do Yoga, seus praticantes verão essa cultura transformar-se, mudando para melhor ou para pior, dependendo da visão de cada um. No entanto, o Yoga continuará existindo e evoluindo e, desde que a essência se mantenha, essa profunda filosofia continuará transformando a vida de muitos.
No entanto, o grande desafio para nós está no sentido de encontrar formas de contribuir para a cultura do Yoga, de forma a enriquecê-la e preservá-la, evitando que se percam seus aspectos mais sutis e difíceis de captar. Se não fizermos isso, que Yoga vamos deixar para nossos netos?
O estudioso Surendranath Dasgupta escreveu em seu livro Yoga as philosophy and religion:
“É errôneo pensar – como muitas pessoas fazem – que o único interesse do Yoga seja seu lado prático. Suas doutrinas filosóficas, psicológicas, cosmológicas, éticas e religiosas, assim como suas doutrinas em relação à matéria e à mudança, são extremamente interessantes e têm, definitivamente, assegurado um lugar na história do progresso do pensamento humano. Dessa forma, para uma compreensão correta dos assuntos essenciais dos mais elevados pensamentos da Índia, assim como para uma compreensão correta do lado prático do Yoga, esses conhecimentos são indispensáveis.“
- Artigo originalmente publicado em 18 de dezembro de 2002 em yoga.pro.br, o site do Pedro [↩]
Olá, Cristiano! Eu li esse texto e concordo com a posição do Pedro Kupfer de que o Yoga vai além de um conjunto de técnicas que visam o bem-estar, ou, como diz no texto, “para a manutenção da saúde e autoconhecimento”. Apesar de reconhecer esses aspectos como elementos de transformação. O próprio ato de “autoconhecimento” é uma transformação por si só. Grata pelas informações! Grande abraço. Paz e luz!
Olá, Larissa, que bom que você gostou desse texto do Pedro. Aproveito pra te recomendar a leitura deste outro, também muito interessante: Curso Instantâneo (e gratuito!) de Formação e receita infalível para ficar rico ensinando Yoga. Espero que você também goste dele e faça boas reflexões! Um grande abraço, paz e luz pra você também! 😀