Árvore, mito e corpo no Yoga

Siddhartha Gautama, o Buddha Shakyamuni
Conta a tradição que a iluminação de Siddhartha Gautama se deu sob a sombra de uma árvore, conhecida como Bodhi. Em visita à Índia, encontrei um lugar de veneração a essa árvore. Não se trata da mesma, mas sim de uma distante descendente, uma vez que essa planta vive em média 300 anos.
Circulada por uma mureta de proteção, e ilustrada com imagens de Buddha com os tantos nomes dados a ele em sua peregrinação no extremo norte indiano, a árvore Bodhi traz uma enigmática e delicada característica: suas folhas apresentam a nítida forma de um coração.
A imagem da árvore circula em diversos textos sagrados, narrativas antigas e em contos ficcionais de muitos povos, culturas e religiões. Uma conhecida e universal referência é a Árvore da Vida, contida na história da criação do mundo, relatada no livro do Gênesis. O historiador Mircea Eliade lembra que tal imagem está relacionada ao cosmos e à vida, à juventude, à imortalidade e à sapiência. Assim, em mitologias da Mesopotâmia, Ásia, Índia e Irã, a imagem da árvore se faz presente, associada, entre outras coisas, à sacralidade de seus frutos. É inevitável aqui o ensino de Jesus: “Conhecereis a árvore pelos seus frutos”. Ela também pode ser encontrada na tradição judaica, através da árvore das vidas ou das dez sefirot (raios condutores emanados da Divindade, localizados no corpo), em uma profunda imersão mística da condição humana. Tal imersão compreende o simbolismo corporal no interior da árvore mítica, sendo essa plantada no jardim do Éden, e o corpo humano entendido como instrumento de ascensão para Deus.

capa do livro The Tree of Yoga, de B.K.S. Iyengar
1) As raízes correspondem aos yamas (com seus cinco princípios morais).
2) O tronco é comparado aos niyamas, os quais dizem respeitos ao controle dos órgãos sensoriais.
3) Os galhos, por sua vez, são entendidos como asanas.
4) As folhas, muito importantes para a absorção de energia, são associadas ao pranayama.
5) Por seu turno, pratyahara é representado pela casca, servindo de proteção ao fluxo de energia no interior da árvore.
6) A seiva corresponde a dharana, significando a concentração voltada para o centro do ser.
7) Nessa metáfora, a meditação (dhyana) garante a experiência de unidade entre as partes da planta sagrada, resultando na flor do Yoga.
8) Finalmente, a essência da árvore constitui seu fruto, quando, segundo Iyengar, ocorre a unidade entre corpo, mente e espírito, no estado de samadhi.

Ashvatta, a Árvore da Vida
Nesse breve e limitado exame, vemos que as representações entre árvore e corpo no Yoga podem revelar muitas outras dimensões e imagens míticas, constituindo uma linguagem de penetrante força espiritual na compreensão do ser humano em sua jornada terrestre.
Artigo maravilhoso!
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